Thursday 5 August 2010

Associacao Academica de Mocambique (II parte)

(II parte)
A 30 de Maio publiquei a primeira parte sobre as equipas de hoquei em patins da Associacao Academica de Mocambique, entre 1972 e 1975, antes da Independencia Nacional de Mocambique.
A foto da equipa senior, onde se ve o Mario Pires, Pinduca, Ze Manuel Domingues(Dirigente), Ze Mauro, Capitao Vitor Rosa, Raposeiro, Jorge Pauleta e Joao Boavida (guarda-redes) e o Ernesto.
Esta equipa deslocou-se no final da epoca 72-73 a Africa do Sul para a disputa de um Torneio Internacional disputado na Uniao Portuguesa de Johannesburg.
Uma das condicoes impostas pela Direccao da Associacao Academica liderada pelo Romeu Rodrigues que acabava de substituir o Ivo Garrido (tinha sido compulsivamente enviado para a tropa colonial) foi a nao discriminacao racial entre os espectadores e jogadores, uma posicao assumidamente politica contra a existencia na altura do regime de apartheid sul-africano.
Esta exigencia acabaria por ser aceite pelos dirigentes do Clube Portugues da Uniao de Johannesburg, mas duvido que tenha tido uma aceitacao por parte das autoridades sul-africanas; mas la se ultrapassaram as dificuldades politicas e a equipa acabou por participar no Torneio; eu acompanhei a equipa como Tesoureiro, nao podia jogar mesmo sendo ainda junior, pois tinha tido um acidente no Lar do Estudante do Ferroviario numa brincadeira com o Hernani Domingues (jogador de futebol do Benfica LM e estudante de Engenharia).
Durante o Torneio houve um enorme "sururu" quando o Ze Mauro sofreu insultos racistas por parte de jogadores adversarios e de espectadores; foi uma confusao geral e o Treinador da Academica, Garradas Domingues teve que intervir com a sua autoridade para que o incidente terminasse. Lembro-me que apesar da exigencia de nao segregacao racial entre os espectadores, apenas um espectador nao-branco estava presente, precisamente o empregado da limpeza do estadio, tal a discriminacao que existia de uma forma natural na Africa do Sul.
No regresso a Mocambique este incidente foi analisado e condenado pela Direccao da AAM, com uma forte reaccao de contestacao por parte da equipa, que culminou com a retirada em massa desta equipa senior da colectividade estudantil, formando-se entao na epoca de 73-74 uma nova equipa senior designada por UFA.
Recentemente recolhi um comentario do Mario Pires que fazia parte desta equipa da AAM sobre a formacao da equipa da UFA que transcrevo do Facebook:
Mário Pires commented on Antonio Castro Araújo's photo: "Sim, a Académica (hóquei claro... o "tal desporto" para ELITES... credo...) acabou devido a "certos "einsteins" (?!?!) renovadpres, inovadores, pensadores, etc., etc., etc.., que "despontaram" com a "revolução dos cravos" !!! Enfim !!!Nas a Equipe, TODA ELA, não se desfez e formamos a UFA. Alguém se lembra ?Abração CASTRO."
O Mario Pires seria um dos defensores do movimento FICO que tomou conta da Radio Mocambique nos dias que precederam os Acordos de Lusaka em 7 de Setembro de 1974 e que culminaria com a morte de muitos inocentes ao longo dos dificeis dias que seguiram a assinatura do Acordo.
Transcricao:
"The first of such episodes was caused by an upheaval in the capital city on 7 September 1974, with the seizing of offices and transmitters of the Rádio Clube de Moçambique, in protest against the Lusaka Agreement signed by the Portuguese Provisional Government and FRELIMO, which provided for the handover of power exclusively to the nationalist movement. This upheaval was led by FICO (Frente Integracionista de Continuidade Ocidental – Integrationist Front for Western Continuity), a movement mostly composed by whites with which FRELIMO dissidents and other members of the black community unwilling to accept a one-party system had allied themselves. FRELIMO supporters retaliated with bloody riots in the black shantytowns surrounding the city and, during several days, thousands of people, mostly Portuguese, were barbarously slaughtered, along with blacks who had allegedly remained loyal to their employers." in http://en.wikipedia.org/wiki/Samora_Machel
Claro que me lembro ainda vividamente destes episodios todos, como poderia esquecer-me desta epoca marcante na vida de milhares de pessoas?
(continua)
ZC55

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