Sunday, 8 May 2016

Hóquei em Patins, Eleicoes e Lista Única


Hóquei em Patins, Eleicoes e Lista Única
Em resposta a um pedido formulado num semanário da praça, estando em férias compulsivas (sim, se não utilizo as minhas férias durante o ano comercial que termina a 31 de Março, perco o direito a elas!), precisando de algum calor e sol e para alivio das minhas preocupações (chamaria mais de obsessões) em relação a Moçambique e a minha modalidade, o hóquei em patins, contando com o apoio incondicional de um verdadeiro Xamwari de infância, embarquei num Domingo de manhã, chegando a Maputo numa 2ª feira, após uma longa viagem de cerca de 22 horas.
A minha chegada, o meu Xamwari estava a minha espera e desde logo senti o calor humano e o sol escaldante que fervilhava pelas primeira horas do dia nessa bela Capital que não para de crescer, num palpitar constante de ansiedades em querer absorver tudo a minha volta. Desde logo os My Love que rodeavam a nossa viatura, onde rostos consternados e resignados nos fixavam, numa aceitação das assimetrias entre a caixa aberta de uma Hillux insegura e o interior acondicionado de um Santa Fe, me incomodaram e deixaram pensativo e triste, contrariando a alegria do regresso a Moçambique.
Após as arrumações caseiras e telefonemas familiares, e enquanto aguardava  pela chegada do Dr. Cazé  para por-mos a nossa habitual conversa em dia,  fui  visitar o Nicolau para sentir e perceber a situação das duas listas que concorreram para as eleições da Federação Moçambicana de Patinagem, recolhendo informação pessoal do que realmente tinha acontecido.
O almoço dessa 2ª feira teve que ser com o meu amigo e ex-colega de equipa  Miguel Rousseau, uma incontornável figura do Hóquei Moçambicano, um dos grandes da época gloriosa antes da Independência e da 1ª Selecção Nacional pos-Independência que disputou vários jogos ao longo do Pais com a selecção da Holanda; o Miguel terminou a sua carreira como jogador na primeira equipa de Hóquei em Patins que o Costa do Sol (após alteração de Benfica LM)teve, sendo Campeão Nacional em 1980, a primeira Taça deste clube; para mim, a minha singela homenagem a este embondeiro do Hóquei Moçambicano que esta ofuscado pelo balcão do seu restaurante na Associação dos Portugueses em Maputo.

Dr. Cazé
Agradeci ao Dr. Cazé a sua intervenção no processo das eleições da FMP, através da sua candidatura e lista de membros para comporem a FMP; de facto quando termos alguém com o seu gabarito e historial no desporto Moçambicano preocupado com a nossa modalidade e interessado em participar, e sempre um bom sinal de que a modalidade não esta esquecida nem voltada ao abandono; a sua lista e candidatura provocaram uma serie de reacções  das quais destaco:
A necessidade de rever os estatutos da Associação criada com base na lei do associativismo, que deu corpo jurídico a FMP, que por sua vez conseguiu receber fundos estatais para a sua movimentação ao longo destes anos todos (mais de sete anos...), na altura uma formulação encontrada para salvar a modalidade e incentivada pelo próprio Dr. Cazé.
Permitiu ao ultimo elenco da FMP, em particular ao Presidente Nicolau, a possibilidade de reverem e reflectirem sobre a forma como vinham trabalhando, identificando áreas e métodos que terão que ser mudados e erros que não podem ser repetidos; uma forma de aprendizagem daquilo que foi realizado com deficiência e despoletando uma vontade em melhorar num futuro próximo.
Como resultado desta candidatura, a união da família hoquista em volta de um mesmo objectivo foi incentivada,  assim como a vontade de impulsionar o desenvolvimento da modalidade com a sua expansão a nível do Pais, a captação de jovens que irão garantir a continuidade do hóquei em patins, garantindo o aparecimento de novos valores que poderão vir a representar Moçambique internacionalmente, no seu mais alto nível competitivo.
Mais uma vez reconheci o Dr. Cazé como uma pessoa do hóquei, um dirigente desportivo de alto gabarito que merece ser reconhecido a um nível elevado, como por exemplo ser um dos nossos representantes no órgão máximo mundial da patinagem a FIRS, ou ainda no CIRH (Comité Internacional de Hóquei em Patins), como foi durante mais de 10 anos o nosso Presidente Honorário Dr. Gamito; para mim, poderia ser o próximo dirigente olímpico nacional, graças ao seu conhecimento desportivo nacional e internacional, para alem de ser medico desportivo e especializado em matérias de doping.
O Dr. Cazé continua a ser um dos nossos guias, uma pessoa com um elevado nível e experiência do desporto, sabe de medicina desportiva, conhece o hóquei como antigo praticante, técnico e dirigente; tem conhecimentos a nível dos nossos políticos, empresários e desportistas; e para um nós uma pessoa que temos ao mais alto nível e que não precisa de títulos para ser dirigente do hóquei; é-o por inerência, por mérito e por experiência, conhecimento e valor; juntamente com o Dr. Gamito, são os nossos verdadeiros guias e suporte nas horas difíceis e também nos momentos de festa e conquistas de resultados; lembro-me do Campeonato Africano ganho pelo CD Estrela Vermelha no Egipto, da conquista do Mundial “C” em Macau, do Mundial “B” no Uruguai, do 4º lugar na Argentina e do 7º lugar em Angola, apenas para citar os momentos mais altos do nosso hóquei em patins, em que ele esteve intimamente ligado a todos esses sucessos.

Nicolau Manjate
O Nicolau teve o seu inicio na Federação Moçambicana em 1978, sendo o mais antigo membro das sucessivas Federações que tivemos; esteve ausente por algumas décadas e sempre que me encontrava com ele, pedia-lhe para regressar ao hóquei e ele dizia-me sempre que sim, um dia regressaria, e assim o fez, quando de novo o re-encontrei em Montreux; na altura fazia parte do elenco do saudoso Cândido Coelho e estivemos todos juntos, incluindo o Dr. Cazé nesse Mundial com uma final inédita para a 9ª posição contra a Alemanha onde venceríamos aos penaltis (golo vitorioso do Siga!). Desde logo o Nicolau mostrou que estava no hóquei para ficar e ajudar a modalidade como sempre me tinha prometido; novamente teria um papel fundamental em Vigo, quando o Cândido Coelho adoeceu e o Nicolau teve que assumir a Presidência da Federação; nesse ano, o Mundial de Hóquei em Patins seria entregue a Moçambique, acto testemunhado pelo Ministro Fernando Sumbana, com o apoio do Dr. Cazé; infelizmente por falta de condições que o CIRH identificou, o Mundial foi retirado e transferido para a Argentina onde Moçambique conquistaria a sua melhor posição de sempre; esta decisão seria veemente contestada pelo Nicolau e Dr. Cazé que endereçaram a FIRS e CIRH cartas de contestação e indignação. Entretanto o Nicolau assumiria definitivamente a Presidência da Federação após retirada do Cândido Coelho, por motivos de saúde; nesse Mundial na Argentina, a conquista do 4º lugar, daria um fôlego enorme a modalidade e ao seu Presidente Nicolau, pois a modalidade  estava moribunda e em risco de desaparecer; essa posição foi um galvanizar e  maior admiração e respeito pelo hóquei Moçambicano; imaginem só se esse Mundial tivesse sido realizado em Moçambique, de certeza teríamos tido ainda uma melhor classificação!
Daqui para a frente o Nicolau terá tido uma gestão fechada e cometido alguns erros que agora lhe apontam: não delegar acções, afastamento de alguns membros da própria Federação, problemas pessoais com outros, uma gestão financeira superficial e  muito pouco na solução do problema do material, equipamento e criação de escolas.
Para mim, um dos maiores erros da sua gestão foi deixar-se ficar refém de uma Associação de Membros Fundadores sem ter alterado os seus Estatutos (como se esta a fazer agora); esta desatenção e ter ignorado o aviso de que havia contestação na sua forma de gestão, levou-o a ficar surpreendido pela candidatura do Dr. Cazé.

Reacção dos jogadores:
A reacção dos jogadores, embora incisiva no bloqueamento das eleições no dia programado, não foi bem recebida por muitas pessoas com quem contactei (algumas delas com posições seniores na estrutura politica, económica e desportiva do Pais); foi uma clara indicação de interferência em assuntos de dirigismo e de subordinação ao Nicolau, de falta de reconhecimento do trabalho efectuado pelo Dr. Cazé pela modalidade e a muitos deles pessoalmente quando estavam enfermos ou lesionados, e em muitos aspectos uma projecção de sentimentos de revolta e de ressentimentos numa figura que representou politicamente o desporto nacional. Eu senti igualmente a dor e amargura de não poder participar em dois Mundiais por motivos políticos; mas eu era atleta e jogador e não fiz greve nem ameaças por Moçambique contestar politicamente o Apartheid e Fascismo, utilizando o hóquei como instrumento de luta; não ficou bem e deixou uma mancha nas suas carreiras desportivas que muitos não se esquecerão, mas que poderão ser desculpadas. O que interessa, é que esses mesmos jogadores venham a ensinar e a transmitir as gerações vindouras todo o seu conhecimento adquirido ao longo de muitos anos, aprendidos e vividos junto  dos melhores técnicos e jogadores mundiais!

Situação da modalidade
Recentemente e após o Mundial de Angola, re-iniciou-se um trabalho efectivo e ambicioso de dinamização das escolas de hóquei em patins, com equipas femininas e masculinas em escalões de iniciacao e juvenis, continuando a disputar-se a competição a nível sénior (para mim com inclinação mais veterana, devido a idade media dos jogadores acima dos 35 anos); mas a modalidade cresceu, foi dinamizada  a Associação de Maputo, o Núcleo de Quelimane apareceu como uma fonte de inspiração e o de Nampula a não querer ficar atrás; vi o Nicolau mais inclinado para estas áreas e acções, mas ainda muito longe daquilo que se pretende; diria que a sigla FMP quiz dizer  “Fez Muito Pouco” e que agora terá que mudar para “Fará Muito Progresso”.
E vi igualmente o Nicolau a pedir desculpas a algumas pessoas que estavam magoadas com ele, e isso é de Homem; tudo isto diz-me que o Nicolau quer mudar, quer ouvir mais e pedir mais ajuda na sua liderança, dividindo as acções e pedindo responsabilidades e caso não sejam apresentados resultados, substituir esse membros do seu elenco; igualmente o Nicolau esta aberto a integrar na sua Federação membros da lista do Dr. Cazé; alguns deles estão mencionados nas duas listas, e depois de falar com alguns desses membros das duas listas eles compreenderam que o melhor sentido será apenas uma lista única, integrando todos aqueles que se predispõem a apoiar e a ajudar a modalidade; e muito há para fazer, não só hóquei em patins, mas na patinagem artística, corridas e hóquei em linha, skateboard, em masculinos e femininos, tudo o que envolve a patinagem e suas múltiplas disciplinas.
O Nicolau é um empresário, o hóquei sempre precisou de ter empresários a dirigir e colocarem a disposição da modalidade de meios financeiros que os fundos alocados pelo Fundo de Fomento Desportivo não chegam para cobrir as necessidades, e cada vez será mais difícil obter esse fundos. O Nicolau conhece muita gente entre  os vários sectores da sociedade, a sua presença é imediatamente reconhecida por onde passa, tem muitos admiradores e pessoas que reconhecem o sucesso do hóquei em patins durante a sua direcção; diz-se que em equipas vencedoras não se muda de um dia para o outro, apenas  precisa de  ajustamentos e a entrada de mais pessoas irá de certeza reforçar a capacidade de direcção e gestão.
Os Jogos Mundiais no próximo ano irão envolver todas essas disciplinas e apenas temos em pratica uma delas, o hóquei em patins; não chega, há muito trabalho para fazer e todos aqueles que querem colaborar e participar são bem vindos; não estamos em condições de dividir e separarmos, temos que nos unir e caminhar juntos nesta longa e interminável jornada para o desenvolvimento de um desporto que traz apenas benefícios para todos aqueles que o praticam.

Lista Única:
Resumindo digo: a constituição de uma Lista Única irá beneficiar a modalidade; esta Lista Única devera ser encabeçada pelo Nicolau, e o Dr. Cazé como Presidente da Assembleia, com o Dr. Lucas Chachino como Vice-Presidente, o Eng. Carlos Laisse na área financeira, pois acredito que estes dirigentes continuarão a dar o seu valioso contributo a modalidade; todos os outros membros das duas listas poderão ser integrados nas varias áreas e departamentos da Federação, mas para trabalharem e demonstrarem resultados na aplicação do plano de acções.
Uma particular atenção devera ser dada a constituição das Associações: na Província de Maputo onde o Belito (Abel Guita) poderá praticar a sua direcção e impulsionar a modalidade na Matola e arredores, na Namaacha que foi o maior centro de formação de hoquistas (Ex-Mouzinho); em Sofala, onde o Ferroviário da Beira se prepara para reabrir o seu Pavilhão recuperado, no Dondo e Lusalite, Nova Maceira e Mafambisse; em Quelimane e Nampula, em Tete e Inhambane; a constituição das Associações de Jogadores, Treinadores, Juízes, Árbitros e Cronometristas, dos Amigos do Hóquei; todas estas Associações darão corpo a uma Federação Moçambicana de Patinagem, uma ideia partilhada e incentivada pelo próprio Dr. Cazé que durante estes anos todos ninguém de direito dentro da FMP se preocupou.
É preciso que o publico Moçambicano tenha a possibilidade de visualizar jogos de alta competição onde a nível de Clubes e Selecção possam estar presentes as melhores equipas e jogadores de nível Mundial; para isso, a realização de um campeonato Africano de Clubes, de uma Taça das Nações Africanas e de um Mundial de Clubes poderá elevar a mobilização a volta do hóquei em patins.
O Dr. Gamito continuara a ser o nosso Presidente Honorário, o Dr. Cazé continuará a ser o nosso guia, mentor, dinamizador, fiscalizador e medico e eu aqui estarei para continuar a dar o meu contributo sem precisar de títulos ( já tenho muitos e há muito tempo!) para fazer parte desta nossa pequena mas lutadora família hoquista!

Ngonhamas Hoye!
Juntos e Misturados...Venceremos!!
A Luta Continua!