No início da década de oitenta, um programa de pesca experimental de atum em Mocambique, financiado por um dos organismos das Organizacoes Unidas e pelo Governo de Mocambique, através da Secretaria de Estado das Pescas , teve o seu desenvolvimento, através da contratacao de uma embarcacao pesqueira denominada "PEDRA BADEJO" de nacionalidade Caboverdiana, especialzada na pesca de atum pelo sistema de "Vara e isca viva".
No início, a embarcacao era capitaneada pelo Comandante José Moreira Rato, que já tinha trabalhado com a embarcacao e tripulacao em Cabo Verde, tendo posteriormente sido substituído por um Capitao Caboverdiano.
Faziam parte da tripulacao alguns membros que comigo desenvolveram uma amizade especial dos quais guardo gratas recordacoes; um dos tripulantes era o Alberto, conhecido como "Albertinho" pelo seu tamanho descomunal; com cerca de 2,15m de altura e mais de 100 Kg. de peso, um verdadeiro gigante, um enorme atleta que mantinha a sua excelente condicao fisíca e atlética, levantando bidoes de 200 litros no convés e transportando os mesmos as costas; quando desembarcava, sua figura imponente impressionava todos aqueles que o viam; era muito boa pessoa e dizia que era o meu guarda costas pessoal!
Outro tripulante característico era o "Manel Coronel", o Cozinheiro-Chefe, figura franzina mas poderosa, sempre com dois facalhoes a cintura e dizia-se que depois do Comandante quem mandava no navio era o Manel Coronel! Pudera, com 2 facalhoes e a protecao do Albertinho, vociferava e bradava ordens que todos imediatamente cumpriam; um excelente cozinheiro, fazia uma cachupa extraordinária e sempre que me via a primeira pergunta era se eu já tinha comido, ou se queria um café, umas sandes, que teria que almocar ou jantar, um verdadeiro amigo que se preocupava comigo.
Em 1983 tive a oportunidade de trabalhar pela 1a vez com esta embarcacao e sua tripulacao no Porto de Pesca de Maputo, onde exercia as funcoes de Director Adjunto, sendo o Director um outro grande amigo, o ex-Inspector de Cais dos Portos e Caminhos de Ferro de Mocambique, Candido José, que infelizmente faleceu há alguns anos; o Director Candido, como veio a ser conhecido depois de transferido dos Portos e Caminhos Ferros para a Secretaria de Estado das Pescas, para as funcoes de Direccao na primeira empresa gestora do Porto de Pesca de Maputo, tinha sido um grande futebolista nos seus tempos pelo Clube Ferroviário, onde mais tarde chegou a exercer a Presidencia e Vice-Presidencia do Clube; a nossa amizade nao se limitava apenas a relacoes laborais, mas se estendia pelo campo desportivo, onde muito apoiou a equipa de hóquei em patins do Ferroviário, pela amizade que existia entre nós; a partida deste amigo e Senhor do Desporto, do Ferroviáio e do sector Ferro-Portuário em Mocambqiue, deixou-me muito triste pois nao tive a oportunidade de me despedir dele, nem soube do seu desaparecimento fisíco na altura, que descanse em Paz!
Regressando ao "Pedra Badejo", a minha tarefa portuária era garantir o reabastecimento da embarcacao em combustível, óleos lubrificantes, água, alimentacao, material de pesca nomedamente varas de "bamboo", assim como todos os outros aspectos relacionados com o Agenciamento do navio, numa altura em que produtos acabados e manufacturados eram raros e quase inexistentes no mercado nacional; mas como havia financiamento exterior e dólares, podia-se abastecer em muitos produtos da Loja Franca existente em Maputo, movimentada apenas em moeda estrangeira.
A chegada da embarcacao ao Porto de Pesca de Maputo era sempre motivo de grande alegria, pois o pescado capturado era comercializado pelo Porto de Pesca e nao havendo uma grande disponibilidade em produtos alimentares, o atum era bem recebido por parte dos restaurantes locais e de alguns vendedores do mercado, ajudando assim a dieta aliementar, a um preco bastante acessível.
Nesse período de vivencia em Mocambique, ter a oportunidade de ter mercadoria para troca comercial, ajudava imenso a abrir as portas para outros fornecimentos mais difíceis e complicados; facilitava o fornecimento prioritário da água que as vezes rareava ou saía com dificuldades, acelerava o fornecimento do combustível, facilitava o desembaraco por parte das autoridades marítimas, ou seja, o atum era uma forte moeda de compra e troca!
(Continua)
ZC55
(Foto da Olhares.com)